domingo, 2 de novembro de 2008

Histórias de Sucesso

Filho de escravos, era carpinteiro. Habilidoso com as ferramentas que usava, seu trabalho era meticuloso e perfeito. Mas, ainda assim, todas essas qualidades não foram suficientes para evitar que fosse demitido durante a grande recessão americana de 1930.

No mesmo ano, aos 19 anos, Vivien Theodore Thomas foi contratado pelo Dr. Alfred Blalock como zelador de um laboratório que se utilizava de cães para experiementos médicos. Sua atividade? Manter o canil limpo e os cães bem tratados.

Tinha um sonho. A Medicina. Juntou cada centavo que sobrava de suas despesas para pagar sua faculdade.

Era negro numa sociedade extremamente racista. E daí? Tinha uma meta e não tirava seus olhos dela. Queria ser médico.

Sua paixão pela medicina o tornava curioso, sedento por saber. Encontrou um tesouro no laboratório. Livros, muitos livros de Medicina. Enquanto executava seus afazeres, devorava os livros, o que logo atraiu a atenção do Dr. Blalock.

Um dia, voltando do laboratório viu um tumulto em frente ao banco onde depositou suas economias. O banco havia falido levando junto todos os sonhos de Vivien. Ele acreditou que não conseguiria superar a perda.

Precisaria recomeçar.

No dia seguinte, ao chegar no laboratório, foi testado por seu chefe. Numa argüição surpresa, teve que citar nomes de vários instrumentos que guarneciam a sala cirúrgica. O Dr. Blalock queria mais, precisava de um assistente. Pediu que Vivien pinçasse os tubos de ensaio. Primeiro com a mão direita e depois com a esquerda. Vivien, com segurança, além de pinçar os tubos, conseguiu colocá-los em seus devidos lugares.

Foi promovido. Passou a ser assistente nas cirurgias experimentais do Dr. Blalock.

Quando Blalock se tornou cirurgião-chefe do Johns Hopkins Hospital, levou consigo Vivien por causa de sua paixão por medicina e habilidade na criação de instrumentos cirúrgicos. Na América racista de sua época, Vivien, que era negro, causava reações discriminatórias nos médicos do lugar ao circular de jaleco branco. Afinal ele não passava de um faxineiro. Vivien Thomas, por ser negro e não diplomado, não podia nem mesmo entrar no centro cirúrgico.

Vivien Thomas, de forma autodidata, através da observação, estudo e dedicação, aprendeu e desenvolveu técnicas inovadoras em medicina.

O trabalho dos dois direcionava ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos para cirurgias cardíacas. O coração, naquela época, era considerado intocável e inoperável. Eles foram os primeiros a realizar cirurgias no coração de pessoas vivas.

Um jovem negro desafiou a ciência, demonstrando sua habilidade para cirurgia no maior Hospital dos Estados Unidos, o conceituado Hospital Hopkins.

Iniciaram sua pesquisa para a descoberta da fisiopatologia do choque hipovolêmico, mais conhecido como "Síndrome do Bebê Azul". Essa síndrome também é conhecida como Tetralogia de Fallot, onde o coração da criança possui um defeito que acarreta grande dificuldade de oxigenação do sangue, com isso o bebê adquire uma cor arroxeada (cianose) e sofre de falta de ar.

Desde os primórdios das suas pesquisas, o jovem Vivien Thomas se destacou.

Entretanto, continuava ganhando menos que os técnicos de laboratório. Seu salário continuava sendo o de um zelador. Lutou e acabou sendo promovido.

Antes de testar a cirurgia em humanos, os dois precisavem criar em cães os mesmos sintomas. Precisavam criar um desvio numa artéria para reproduzir a doença azul. Depois operariam o coração do animal para solucionar o problema. Vivien e seu mentor conseguiram.

Chegara a hora de aplicar a técnica em seres humanos. Desenvolveram o primeiro procedimento invasivo de anastomose em cirurgia cardíaca. O Dr. Blalock repetiria a operação em um paciente humano, com Vivien Thomas de pé num banquinho atrás de si, vendo tudo por sobre seu ombro e dizendo-lhe o que fazer. A cirurgia era considerada de alto risco.

Vivien enfrentou a discriminação dos demais médicos. Além de negro, não era graduado. O sonho de cursar a faculdade acabou sendo deixado de lado. Quando quis retomá-lo, percebeu que esperara demais. Todo o seu trabalho e experiência não lhe serviram para eliminar disciplinas e precisaria cursar todos os períodos letivos. Isso levaria tempo demais. Desitiu da faculdade e continuo seu trabalho laboratorial.

Thomas, jovem negro que sempre sonhou em ser médico, não levou o mérito das suas pesquisas.

Com um limitado grau de educação formal, Thomas lutou contra a pobreza e o racismo para se tornar um pioneiro na área da cirurgia cardíaca e um professor para estudantes que se tornariam os melhores cirurgiões dos Estados Unidos.

A parceria durou quase 40 anos e só muitos anos depois o trabalho de Vivien foi reconhecido.

Após a morte de Blalock em 1964, Vivien permaneceu no local por mais 15 anos.

Somente em 1976, Viven foi condecorado com um título de Doutor Honorário. No entanto, devido a certas restrições, ele recebeu um título de Doutor em Direito e não em Medicina. Vivien também foi nomeado para o corpo docente da Johns Hopkins Medical School como Instrutor de Cirurgia.

A História de Vivien Thomas é contada no filme Quase Deuses, parcialmente baseado no artigo jornalístico "Something the Lord Made", escrito por Katie McCabe e publicado no Washingtonian.

A história real de Viven Thomas foi produzido em 2004 pela HBO.

Nas salas da escola há uma réplica do retrato de Vivien Thomas encomendado por seus formandos de 1968. Repousa ao lado do retrado do Dr. Blalock

Vivien Thomas T. nasceu em New Iberia, Louisiana, em 29 de agosto de 1910.

5 comentários:

Anônimo disse...

Primeiramente parabéns pelo trabalho em educação. É reconfortador nesses tempos de abando ...
Em segundo lugar, uma pergunta: Você conhece a história do Dr. Hamilton Naki? É muito semelhante a do Dr. Vivien.
Por último peço para divulgar em meu blog, sua postagem sobre Vivien.
Agradeço e aguardo.

Professora Raquel Tinoco disse...

Olá. Obrigada. Vou conhecer seu blogue. Claro, pode sim, sem problemas. Vou procurar sobre a história do Dr. Hamilton Naki. Abraços e seja bem-vindo.

MARYMAGRO disse...

ASSISTI O FILME QUASE DEUSES MARVILHOSO EMOCIONANTE ENSINANDO NUNCA DESISTIR COMO DR THOMAS E NUNCA OLHAR A COR DA PELE MAS A CAPACIDADE E ESFORÇO MARY

Professora Raquel Tinoco disse...

Sim, é um filme maravilhoso. Bjs

ELISANGELA DUTRA disse...

PROFESSORA RAQUEL ME CHAMO ELISANGELA E MORO EM MANAUS, VAI HAVER CONCURSO PARA TJAM E GOSTARIA DE SABER ALGUMAS DICAS SUAS DESDE JÁ AGRADEÇO UM GRANDE ABRAÇO.

Tudo começou quando...

meus sobrinhos, e não são poucos, resolveram fazer concurso para o Tribunal de Justiça.

Eu já estava trabalhando como Auxiliar Judiciário, aprovada no concurso de 1993. Pediram-me que desse aulas.

Então nos reuníamos na casa de um deles aos finais de semana e estudávamos. Comecei a elaborar apostilas que eram chamadas por eles de "apostilas da Que-Quel".

Ah, devo dizer que também não foi fácil pra mim.

Sou caçula de uma família com dez filhos.

Meus pais, muito humildes, não podiam fazer mais do que faziam. Todos tivemos que nos virar muito cedo.

Mas eles estavam ali.... movidos de esperança. Ensinaram-me que nunca devemos desistir dos nossos sonhos, não importa quantas vezes choremos... não importa se não chegamos em primeiro lugar... não importa se não alcançamos nossos alvos na primeira tentativa... não importam as adversidades... apenas continuem, dizia meu pai. E o via ali, praticando, ele mesmo, tudo o que ensinava.

E segui.

E então, como dizia, comecei a elaborar apostilas que foram ficando famosas... rsrs


No Fórum onde trabalhava, os colegas começaram a pedir que desse aulas. Mudei o local para minha casa e começamos a estudar.

E veio o concurso de 1997. Prova difícil.
Não obtiveram o êxito esperado. Mas não desistimos.

E veio o concurso de 2001. Estava já há algum tempo no TJ e resolvi que precisava mudar de cargo. Precisava passar para Analista. O que fazer? Pedi um mês de licença-prêmio e me tranquei em casa.

Prestem atenção. Tranquei-me!!! O tempo jogava contra mim. Minha licença foi deferida para 1º de julho de 2001 e a prova seria vinte e um dias depois.


Passava os dias lendo Codejrj e Estatuto e gravando a minha própria voz para escutar mais tarde, enquanto fazia outras tarefas.

Estudei o que pude, como pude.


E aí... em 2001 fui aprovada para Analista Judiciário (antigo Técnico Judiciário Juramentado). Gabaritei as questões de Codjerj e Estatuto.

Pouco tempo depois, estava trabalhando, quando um amigo, Vinícius, sabendo que eu havia gabaritado essas matérias, me convidou para dar aulas em Campo Grande-RJ.

Fui, morrendo de medo. Frio na barriga. Mas fui...

Lembra?? Jamais desistir!


Parece que gostaram... Daqui a pouco, ele mesmo , Vinícius, ao ser convidado para dar aulas em um curso da Barra, indicou meu nome para substituí-lo.

E lá fui eu... Assim, foram conhecendo meu trabalho.

Logo, estava sendo convidada para outro curso... e outro... e outro...


E tenho dado aulas desde então. A cada concurso, um novo desafio.

As apostilas da "Que-Quel" foram transformadas em apostilas da Professora Raquel Tinoco.

Amanda, minha sobrinha, está hoje no TJ-PR.

Outros sobrinhos seguiram rumos diferentes, sempre em frente, sempre na direção de seus sonhos. Estão chegando lá.


Meus alunos tornaram-se meus amigos e isso não tem preço.

Meu maior incentivo?? É acompanhar cada resultado e torcer por:

Admares, Alessandras, Alexandres, Alines, Amandas, Andréias, Andrezzas, Anicks, Arianes, Biancas, Bias, Brunos, Calixtos, Carlas, Carlos, Carlinhos, Carolinas, Carolines, Cidas, Christians, Constanças, Cristianes, Daniéis, Danielles, Deises, Denises, Diogos, Drês, Dris, Eneas, Fabíolas, Fábios, Fernandas, Filipes, Flávios, Freds, Giselas, Giseles, Ghislaines, Glórias, Hannas, Henriques, Ianos, Ilanas, Isabéis, Isabelas, Israéis, Ivanas, Ivans, Izadoras, Jackies, Jacques, Janes, Joões, Jeans, Julianas, Kayenes, Kátias, Lenes, Léos, Lúcias, Lucianas, Lucianos, Ludymilas, Luízas, Luzias, Magnos, Marcelas, Marcélis, Marcellas, Marcelles, Márcias, Marcys, Marianas, Marias, Megs, Meles, Mônicas, Patrícias, Pattys, Paulos, Pedros, Pritzes, Rafas, Rafaéis, Raphas, Raquéis, Renatas, Renées, Robertas, Robertos, Rodrigos, Rogérias, Silvanias, Simones, Sérgios, Suelens, Suellens, Tassianas, Tatis, Vanessas, Vicentes, Wilsons....

Deus os abençoe.

não desista!

não desista!

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