Quase todas as cidades do sul dos Estados Unidos tinham leis que separavam negros e brancos dentro dos ônibus e em outros locais públicos. Os primeiros assentos dos ônibus tinham a seguinte inscrição: “Somente para brancos”. Os últimos assentos eram reservados para os negros.
Já os poucos assentos do meio poderiam ser usados por brancos e negros, mas a preferência era para os brancos: se o ônibus ficasse lotado e houvesse negros nesses assentos do meio, estes deveriam se levantar para ceder lugar para os brancos que não conseguissem se sentar.
Uma idosa negra, por exemplo, que estivesse ocupando um assento do meio de algum ônibus deveria dar o seu lugar para um jovem branco, se este entrasse no ônibus e não encontrasse assento para si.
O ônibus que transportava Rosa Parks seguiu alguns quilômetros até parar num ponto onde alguns brancos entraram. Ainda havia lugares na área reservada para brancos, mas eram insuficientes para todos os brancos que subiram naquele ponto.
Um homem branco ficou
Segundo a lei municipal de Montgomery, apenas um dos negros deveria se levantar para dar lugar àquele homem branco. No entanto, o motorista exigiu que os quatro se levantassem.
Eles não obedeceram. O motorista gritou: “É melhor que vocês me ouçam e deixem esses assentos livres”. Os três negros se levantaram, mas Rosa permaneceu sentada. Nervoso, o motorista lhe perguntou: “Você vai se levantar?” Rosa respondeu: “Já existem três assentos desocupados, o senhor que está em pé pode se sentar em um deles”.
O motorista ameaçou: “Se você não se levantar, vou chamar a polícia”. Com firmeza, Rosa lhe disse: “Vá em frente, chame a polícia”. O motorista desceu do ônibus e quando voltou, trouxe consigo um policial. Este perguntou à Rosa: “Por que você não se levantou?” “Achei que não era preciso”, respondeu Rosa apontando para os assentos vazios. O policial sentenciou: “Você está presa”. A moça quieta, pacífica, mas cansada de tanto preconceito, foi levada algemada para a prisão.
Naquela mesma noite, a notícia de que uma jovem negra havia desafiado a prepotência dos brancos, despertou nos negros de Montgomery o desejo de lutar por igualdade de direitos. No dia seguinte à prisão de Rosa, vários pastores negros se organizaram para iniciarem um boicote aos ônibus de Montgomery. A idéia era: nenhum negro deve usar os ônibus da cidade como meio de transporte.
Eles deveriam se deslocar a pé, pegando carona com negros que colocavam os seus carros à disposição do movimento ou pegando táxis de proprietários negros, que, a partir daquele dia , cobrariam o mesmo preço que os ônibus. Quatro dias após a prisão de Rosa Parks, em 5 de dezembro de 1955, o boicote foi iniciado.
O grupo de pastores que iniciou o movimento organizou uma assembléia com os negros de Montgomery e escolheram Martin Luther King Jr., um jovem pastor batista negro daquela cidade, para liderar a ação.
Em pouco tempo, o protesto dos negros de Montgomery ganharia fama nacional e internacional. O boicote se tornaria um amplo movimento de luta pelos direitos dos negros e Martin Luther King Jr., anos mais tarde, ganharia o Prêmio Nobel da Paz e se transformaria no maior símbolo de luta contra o preconceito racial.
O boicote deu certo. Mais de 90% dos negros de Montgomery aderiram a ele. A empresa de ônibus que controlava o transporte urbano na cidade começou a ter prejuízo, pois perdeu 17.500 passageiros, ou seja, 75% dos usuários. A prefeitura de Montgomery tentou reprimir o boicote, mas não teve sucesso. Alguns meses depois, o Supremo Tribunal Federal dos Estados Unidos determinou que todas as leis municipais que separavam negros e brancos dentro dos ônibus estavam canceladas.
Rosa Parks foi solta sem ter idéia de que o seu protesto pacífico, a sua teimosia e a sua “desobediência” haviam iniciado o maior movimento de luta pelos direitos dos negros da história.
Após ser solta, Parks teve dificuldade para encontrar trabalho no Alabama, e se mudou para Detroit em 1957, onde se tornou uma figura reverenciada pela população local.
O Museu Rosa Parks, inaugurado em novembro de 2000, lembra a briga desta mulher, com atrações como o ônibus de assentos "reservados para brancos" na parte central. Os visitantes também podem assistir a filmes que contam como era a vida dos negros na época da segregação racial.
São as pequenas ações que transformam o mundo.
Fontes: