Mateus 5:9: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus".
Havia dois irmãos que, por razões nem sempre explicáveis, tornaram-se inseparáveis. Vieram de uma família com muitos membros e conviveram com dois casamentos de seu pai.
Moravam no interior de Minas Gerais e um deles nasceu em Carangola. Viram a família diluir-se em partes, irmãos seguindo caminhos diferentes, sendo separados um dos outros. Quem sabe por um pacto secreto, decidiram ficar juntos?
Nem todas as adversidades pelas quais passaram foram capazes de separá-los. Um era mais forte, o outro mais franzino. Talvez por isso o mais forte tenha posto em seu coração o dever de proteção.
Tornaram-se adultos, constituíram suas famílias e tinham uma prática muito interessante. Os dois irmãos não iam à casa um do outro sem levar um pão. Mas não era qualquer pão. Era um pão doce enorme, com frutas cristalizadas, coberto por creme e ameixas e o recheio fino de goiabada. Aquele pão... representava muito para os sobrinhos que, ao verem seus tios chegando, sabiam que logo estariam assentados em torno de uma mesa, ouvindo a conversa dos dois e saboreando o pão. Seus olhos brilhavam quando enxergavam o embrulho nas mãos dos tios que os visitavam. Naqueles momentos de comunhão, a família tinha certeza que nos olhares dos dois irmãos havia um amor tão grande que, certamente, nem a morte poderia destruir.
Um dos irmãos adquiriu uma outra prática. Não podia ficar muito tempo sem ver seus filhos. Quando isso acontecia, colhia dos frutos do que plantava ou fazia potes deliciosos de doces e, quando não havia nada a colher, comprava alguma coisa. Punha tudo em sacolas e lá ia ele em busca de notícias. Algumas vezes, esse pai voltava sem encontrar o filho, mas sempre deixava um sinal de sua presença. Penduradas no portão, do lado de dentro da casa do filho estavam as sacolas. Elas pareciam dizer: "não importa o quanto demore, sempre o amarei e sempre o buscarei."
Os dois irmãos se foram. Cabelos embranquecidos, o mais franzino se foi primeiro e anos depois, o outro.
Os filhos esqueceram a prática dos pais. Talvez porque não conseguissem mais encontrar pães como aqueles, deixaram de lado o ritual.
Mas ainda reina a esperança de que ao se visitarem tragam nas mãos um embrulho onde haja um pão doce. Reina ainda a esperança de que se assentem ao redor de uma mesa e que seus olhares demonstrem tanto amor que nem a morte possa apagar.
Raquel Tinoco