Há alguns anos atrás, pesquisando sobre os vários povos da Terra, curiosa por saber quem mais se parecia com as misturas da minha família, acabei me interessando pela história da Mongólia.
Lançaram a pouco tempo o filme "O Guerreiro Genghis Khan". Sabia pouca coisa sobre aquele povo e seus heróis e queria saber mais. Gosto de História.
Parece que as tempestades na Mongólia são parecidas com as nossas. Trovões assustadores!!! Raios para todos os lados!!! Bem, pelo menos em Guapi é assim. Ui.
O filme fala que os mongóis têm medo do trovão.
E é justamente a vitória sobre o medo que faz com que aquele povo se eternize pelos séculos contando a saga de um de seus líderes, talvez o mais aclamado.
"Temudjin, nascido em 1162 numa barraca próxima à nascente do rio Oron, que banha o norte da atual Mongólia, não era apenas um guerreiro destemido. Filho de um clã poderoso, Gengis Khan — que significa o "Khan dos Khans" ou " grande líder" — tinha espírito de empreendedor e legislador. Compilou e ordenou toda uma série de leis tribais num único código a ser respeitado pelos demais clãs, a Yassa. Poucos anos depois da morte de Khan, em 1227, a Europa quase inteira estava ocupada pela gente de pequena estatura, olhos oblíquos e tez amarelo-oliva." Revista Superinteressante
O que me chamou a atenção não foi a grandiosidade do império ou coisa parecida, mas uma frase. O épico fala que Temudjin foi escravizado por um de seus empregados após a morte de seu pai. Passou grande parte de sua vida fugindo ou aprisionado. Mas tinha um alvo. Não sucumbiu às intempéries. Sua força estava ali, em sua vontade.
Muitas tempestades o alcançaram ali, sem proteção. Não tinha como fugir dos trovões. Estava indefeso. Aprendeu a não ter medo. Então, no dia da grande vitória, derrotou seus inimigos, justamente porque uma tempestade o ajudou. Enquanto todos os mongóis dos clãs inimigos se escondiam dos trovões, tornando-se vulneráveis, ele avançava e estimulava seus guerreiros a não terem medo.
Após a batalha perguntaram-lhe a razão de não ter medo. Ele respondeu que não teve como fugir dos trovões e aprendeu a conviver com eles.
Então, comecei a pensar. Há muitas tempestades em nossa vida, algumas arrasadoras. Diversas delas nos alcançam ali, no campo, desprotegidos. Somos alvos fáceis. Não temos como escapar. Os clarões nos cegam e o barulho ensurdecedor dos trovões nos amedrontam.
O vento nos açoita como se fosse um chicote. Dói. Nos dá apenas duas opções: nos deixamos levar por ele ou lutamos contra ele. Às vezes, parece que todas as opções nos levarão à ruína, à derrota, ao desespero. O que fazer, então?
Se não há como se esconder, se não há opção de abrigo, se a tempestade é inevitável, enfrente-a.
Cada um dos nossos trovões têm dimensões diversas. Os meus podem não ter a mesma dimensão dos seus, mas são tão assutadores quanto. Podem ter a dimensão da depressão, do medo de não conseguir alcançar o objetivo, de uma enfermidade, da falta de recursos, do comodismo, da descrença, da desesperança, da traição, da indeferença , do desamor etc. etc. etc.
Está ali, vindo em nossa direção... Sucumbir é dar costas à vida, deixar-se envolver pelo tufão, sem saber até onde ele nos levará. Pode ser que nem mesmo sobrevivamos.
Enfrentar é ter a certeza de que, embora feridos, a vitória nos espera. Só ela. A tempestade passa, não dura eternamente. Após ela, luz... brilho... renovo.
Feliz 2010. Obrigada por ter estado comigo durante todo este ano. Deus o abençoe.
Texto: Raquel Tinoco