Não sei quem o plantou, quando eu cheguei já estava aqui. Aprendi a amá-lo pelo que representa para mim. Muitos pássaros em seus frutos.
Fico vigiando para que não tirem todos os caquis.
"Ei, deixe alguns para os pássaros!"
Em meados deste ano, com a safra no fim, fiquei preocupada. As folhas do caquizeiro estavam secas, amareladas, seus galhos começaram a ficar limpos, como se o caquizeiro não fosse sobreviver. Subia no terraço e olhava para ele, triste.
Os pássaros trazem alegria e cor, mas também umas sementinhas de uma planta conhecida como "erva de passarinho". Ela vai crescendo e tomando conta de toda a árvore. Havia alguns ramos na copa do caquizeiro.
Comecei a perturbar o Paulo. "Você tem que fazer alguma coisa, tirar aquela erva lá de cima".
"Faça o que for preciso, mas não o deixe morrer".
Um dia o Paulo resolveu subir na árvore e podá-la. Estava preocupado em não ser a época própria para a poda e prejudicar ainda mais a planta. Mas diante da minha insistência e medo que ela morresse, podou.
O caquizeiro agradeceu. Lembrei do Zezé, do "Meu Pé de Laranja Lima". Hoje ele está lindo!!! As folhas, enormes. Deu-nos mais uma lição de vida.
Às vezes, quase sucumbindo, precisamos de uma "poda" para sobreviver. Podemos associar a erva de passarinho à qualquer adversidade que teima em nos derrotar. Ela vem de mansinho, quase imperceptível, uma folhinha aqui, um raminho ali e, de repente, estamos tomados pelos problemas, num emaranhado confuso de sentimentos. É preciso arrancá-la pela raiz. Não se pode deixar um pedacinho sequer ou ela retorna com força e, talvez, não resistamos mais.
O arrancar a erva pode levar pedaços do seu próprio corpo, como os galhos do caquizeiro. Mas para renascer, às vezes é preciso quase morrer!!! É preciso ter coragem para se deixar podar.
Para minha surpresa, há em cada galho do pé de caqui, muito mais frutos que no ano passado!!!
Paulo me explicou que por tratar-se de uma árvore muito antiga, ela já estava em processo de dormência. Ao cortar seus galhos, por uma questão natural de sobrevivência, a árvore frutifica mais, garantindo assim, a preservação da espécie.
Fico imaginando se um dia tiver que me mudar deste lugar. Sofro por antecipação pelo pé de caqui.
Fotos: Raquel Tinoco
Foto 1: Saí Azul
Foto 2: Sanhaçu de encontro amarelo
Foto 3: Meu Pé de Caqui