sexta-feira, 3 de junho de 2011

Jiló - 2009 - 2011 e para sempre


Descobri que a nossa existência é feita de pedaços. Pedaços de nós, pequenos, grandes, enormes... que vamos deixando pelo caminho durante toda a vida, até restar o último pedacinho... Este, quando deixa de existir leva consigo um pedaço de outro e assim o ciclo recomeça...

Descobri também que todos esses pedaços pertencem a um único território chamado coração. O mais incrível é que, despedaçados, ainda continuamos inteiros!!! Engenhoso mecanismo de sobrevivência.

Descobri que, diferentemente de toda a tecnologia utilizada para mapear o coração, em 3 D e coisas mais, o que interessa mesmo é a cartografia. Isso mesmo, aquela  ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo dos mapas que aprendemos a colorir na escola. 

O coração está dividido em territórios de diferentes tamanhos que se desmembram e se integram a outros territórios de outros corações, formando um só território, às vezes invisível aos outros, mas que nós sabemos perfeitamente que está lá. Como todo Chefe de Estado, por ele lutamos, pois queremos que permaneça agregado a nós. 

Às vezes, a nossa esperança de tê-lo para sempre, mesmo sabendo ser impossível, é mais forte que a nossa coragem de deixá-lo ir, na brisa do vento que hoje veio visitar-me. 

É difícil não disputar com ele um pedaço do rack. É difícil acordar sem ver o seu focinho na beirada da cama esperando-me abrir os olhos. É difícil não vê-lo mais ao portão esperando-me. É difícil não ter que esquivar-me de seus pulos. É difícil não vê-lo correndo pela casa e quintal atrás da Mel. Por isso, meu querido Jiló, estará aqui para sempre, no seu território do meu coração.  

O último olhar foi bem dentro dos meus olhos, como a desculpar-se por me fazer sofrer. Estava ligado a um equipo e levantou-se ao ouvir minha voz. Despediu-se ali, eu bem sabia, só não queria acreditar. A última vez que falei com ele foi ao telefone, grudado ao seu ouvido, repetindo mais de uma vez que o amava e que isso era mais forte que eu. 

Jiló é o mais novo pedaço de mim que deixo nessa existência. Muitos outros já foram deixados por aí, pois é assim o ciclo da vida. 

Seja feita a Tua vontade, eu só quero a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.  

Tudo começou quando...

meus sobrinhos, e não são poucos, resolveram fazer concurso para o Tribunal de Justiça.

Eu já estava trabalhando como Auxiliar Judiciário, aprovada no concurso de 1993. Pediram-me que desse aulas.

Então nos reuníamos na casa de um deles aos finais de semana e estudávamos. Comecei a elaborar apostilas que eram chamadas por eles de "apostilas da Que-Quel".

Ah, devo dizer que também não foi fácil pra mim.

Sou caçula de uma família com dez filhos.

Meus pais, muito humildes, não podiam fazer mais do que faziam. Todos tivemos que nos virar muito cedo.

Mas eles estavam ali.... movidos de esperança. Ensinaram-me que nunca devemos desistir dos nossos sonhos, não importa quantas vezes choremos... não importa se não chegamos em primeiro lugar... não importa se não alcançamos nossos alvos na primeira tentativa... não importam as adversidades... apenas continuem, dizia meu pai. E o via ali, praticando, ele mesmo, tudo o que ensinava.

E segui.

E então, como dizia, comecei a elaborar apostilas que foram ficando famosas... rsrs


No Fórum onde trabalhava, os colegas começaram a pedir que desse aulas. Mudei o local para minha casa e começamos a estudar.

E veio o concurso de 1997. Prova difícil.
Não obtiveram o êxito esperado. Mas não desistimos.

E veio o concurso de 2001. Estava já há algum tempo no TJ e resolvi que precisava mudar de cargo. Precisava passar para Analista. O que fazer? Pedi um mês de licença-prêmio e me tranquei em casa.

Prestem atenção. Tranquei-me!!! O tempo jogava contra mim. Minha licença foi deferida para 1º de julho de 2001 e a prova seria vinte e um dias depois.


Passava os dias lendo Codejrj e Estatuto e gravando a minha própria voz para escutar mais tarde, enquanto fazia outras tarefas.

Estudei o que pude, como pude.


E aí... em 2001 fui aprovada para Analista Judiciário (antigo Técnico Judiciário Juramentado). Gabaritei as questões de Codjerj e Estatuto.

Pouco tempo depois, estava trabalhando, quando um amigo, Vinícius, sabendo que eu havia gabaritado essas matérias, me convidou para dar aulas em Campo Grande-RJ.

Fui, morrendo de medo. Frio na barriga. Mas fui...

Lembra?? Jamais desistir!


Parece que gostaram... Daqui a pouco, ele mesmo , Vinícius, ao ser convidado para dar aulas em um curso da Barra, indicou meu nome para substituí-lo.

E lá fui eu... Assim, foram conhecendo meu trabalho.

Logo, estava sendo convidada para outro curso... e outro... e outro...


E tenho dado aulas desde então. A cada concurso, um novo desafio.

As apostilas da "Que-Quel" foram transformadas em apostilas da Professora Raquel Tinoco.

Amanda, minha sobrinha, está hoje no TJ-PR.

Outros sobrinhos seguiram rumos diferentes, sempre em frente, sempre na direção de seus sonhos. Estão chegando lá.


Meus alunos tornaram-se meus amigos e isso não tem preço.

Meu maior incentivo?? É acompanhar cada resultado e torcer por:

Admares, Alessandras, Alexandres, Alines, Amandas, Andréias, Andrezzas, Anicks, Arianes, Biancas, Bias, Brunos, Calixtos, Carlas, Carlos, Carlinhos, Carolinas, Carolines, Cidas, Christians, Constanças, Cristianes, Daniéis, Danielles, Deises, Denises, Diogos, Drês, Dris, Eneas, Fabíolas, Fábios, Fernandas, Filipes, Flávios, Freds, Giselas, Giseles, Ghislaines, Glórias, Hannas, Henriques, Ianos, Ilanas, Isabéis, Isabelas, Israéis, Ivanas, Ivans, Izadoras, Jackies, Jacques, Janes, Joões, Jeans, Julianas, Kayenes, Kátias, Lenes, Léos, Lúcias, Lucianas, Lucianos, Ludymilas, Luízas, Luzias, Magnos, Marcelas, Marcélis, Marcellas, Marcelles, Márcias, Marcys, Marianas, Marias, Megs, Meles, Mônicas, Patrícias, Pattys, Paulos, Pedros, Pritzes, Rafas, Rafaéis, Raphas, Raquéis, Renatas, Renées, Robertas, Robertos, Rodrigos, Rogérias, Silvanias, Simones, Sérgios, Suelens, Suellens, Tassianas, Tatis, Vanessas, Vicentes, Wilsons....

Deus os abençoe.

não desista!

não desista!

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