Você acredita em milagres? Vou lhe contar um.
Estamos em casa, recebemos alta hoje.
Mas tem muito mais... muito mais...
Minha mãe se casou aos 16 anos, quase 17. Era uma menina da roça, humilde e sem muitas pretensões, apenas a de ser feliz. Teve dez filhos. Hoje, oito vivos.
Meu pai, um belo "gajo", tinha 25 anos ao se casar e a vida extemporaneamente o fez gigante. Era mineiro e veio para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até morrer em 2004.
Ele era o cabeça da casa. Minha mãe deixou-se guiar por ele e confiou sua vida em suas mãos. Permaneceram casados por 61 anos.
Por isso quando falo de minha mãe, talvez estranhem o jeito. Mas ela era totalmente dependente do meu pai.
Sempre pensamos que minha mãe morreria antes que meu pai, pois acreditávamos que se meu pai a precedesse, ela não suportaria muito tempo. E foi aí, a despeito de todas as nossas suspeitas que a força de minha mãe se revelou.
Após a morte de meu pai, a saúde de minha mãe piorou consideravelmente. Os problemas se agravavam. Diabetes e alguma coisa em seu abdômen que os médicos não descobriam. Mas havia risco de morte. Nos disseram que precisavam descobrir a causa do problema, pois minha mãe poderia morrer subitamente.
Ela foi internada em julho de 2005 para fazer exames e descobrirem a causa de sua doença. Mais ou menos um mês depois, foi diagnosticada uma massa cística em seu abdômen que retinha líquido. Foi submetida a uma cirurgia e ficamos mais um mês no hospital para que se recuperasse. Os antibióticos utilizados intoxicaram seus rins e eles paralisaram em setembro de 2005. A partir daí começaram as sessões de hemodiálise.
Ela não entendia muito bem o que estava acontecendo. Nós sempre a alertávamos que se não se cuidasse, poderia ficar "naquela" máquina e ela respondia que se tivesse que ficar "naquela" máquina, preferia morrer. Talvez, por isso, a terapia de minha mãe fosse tão difícil para mim.
A hemodiálise consistia em três sessões semanais, de quatro horas cada.
O que mais doía, entretanto, era a restrição de líquidos, especialmente água. Tínhamos que inventar mil maneiras de não lhe dar água e isso rendia muitas brigas.
Mas ela não desistia e nem nós. Orávamos, orávamos e orávamos para Deus nos revelasse o propósito de tudo aquilo, pois eu cansei de ver minha mãe suplicar-Lhe que não a deixasse ficar "naquela" máquina.
Lá se vão quase quatro anos de batalha. Ultimamente, entretanto, minha mãe vinha piorando. Os leitores e alunos que me conhecem e têm acompanhado minha luta, sabem que não é de hoje que precisava adiar aulas, faltar etc. em virtude do problema de minha mãe.
Cada sessão de hemodiálise era, para nós, uma vitória. Vimos minha mãe saindo carregada, desfalecendo, agulhas no braço, cateter etc.
Sofríamos, chorávamos, ali na sala de espera, aguardando o fim de mais uma sessão. Daqui a pouco vinha ela, às vezes bem, às vezes mal, mas sempre sorrindo, tentando demonstrar que estava tudo bem.
Mas não sabíamos a suspresa de Deus. Desconfiei que Ele estava preprando alguma coisa ao permitir que ela ficasse internada em seu aniversário. Não era possível!!! Todos os dias nos ajoelhávamos diante de sua cama e orávamos, chorávamos baixinho, suplicávamos que Ele cuidasse dela, que não permitisse que minha mãe morresse "naquela" máquina. Eu pedia isso cada vez que a sessão começava. Lembrava a Ele do quanto ela orava, do quanto pedia. Cobrava dEle alguma providência. Às vezes me sentia impotente e desabava. Mas, logo alguma coisa acontecia para nos reerguer.
Há dois meses, aproximadamente, vocês sabem, minha mãe, devido a uma revisão de fístula, começou a exteriorizar problemas em seu sistema venoso (trombose e estenose). No dia seguinte ao do procedimento, o braço dela amanheceu muito inchado. Sua mão estava azul, cianótica. Como acompanhante de uma doente renal crônica, pude ver, muitas vezes, essa mesma história. O final, quase sempre era infeliz. Me desesperei. Voltei ao médico e questionei o inchaço. Ele me explicou com termos técnicos que isso era natural. Eu não me conformava. Voltei ao médico e questionei quanto à necessidade de novos exames. Ele disse ser desnecessário. Enquanto isso, o braço apenas piorava. Em uma das sessões de hemodiálise, a médica, assustada com o tamanho do braço, nos chamou e disse que minha mãe corria o risco de perdê-lo. Era tudo o que eu não queria ouvir. Resolvemos procurar outro cirurgião vascular e a cada consulta, perguntávamos sobre o risco de amputação. A resposta era sempre negativa e lá vinha uma novidade, mas nenhuma solução.
O meu desespero aumentava na mesma proporção que o seu braço crescia. Orava e perguntava a Deus o propósito. Nada. Como minha mãe dizia: "Ele ficou quieto".
No dia 10 de junho, após a terceira tentativa de desobstrução e ligadura de perfurante, sei lá mais o quê, nos dirigimos à clínica de hemodiálise. O braço já estava completamente rijo, uma coloração avermelhada, quente, muito quente. Começava a doer. A médica recusou-se a puncioná-lo, graças a Deus, pois eu questionava cada punção naquele braço.
Agora quem se desesperava era a médica. Disse que minha mãe precisava ser internada imediatamente para uma sessão de DIÁLISE, pois seu principal problema naquele momento não era o braço, mas sim, sua disfunção renal. Eu não concordava.
Depois de várias ligações, nos encaminhou para o Hospital Central da Aeronáutica, onde a equipe da nefrologia daria um jeito de "fabricar um acesso" para dialisar. Nos disse que, possivelmente, o acesso seria pela barriga e que ela ficaria dialisando por 24 horas.
Eu morri. Não conseguia imaginar minha mãe sendo submetida a mais esse estresse. Mas ela afirmava que isso salvaria sua vida. Liguei para minha família e expus a situação. Decidimos, eu e meu marido, nos dividir. Ele seguiria para o HCA (nefro) com a minha mãe e eu, para o HFAG (vascular), tentando que eles realizassem o procedimento de desligamento da fístula.
Mas naquela noite, após orarmos, durante o sono, eu senti fortemente a sensação de que não deveria levar minha mãe ao HCA. Deveria seguir com ela primeiro ao HFAG. Desobedeci à ordem médica. Perguntei ao meu marido se ele concordava. Liguei para um dos meus irmãos e perguntei se ele apoiava a minha decisão. E foi o que fizemos.
No dia 12 de junho, seguimos com minha mãe para o HFAG. Encontramos a equipe da cirurgia vascular e em quinze minutos estávamos com sua internação autorizada para domingo à tarde. O procedimento de desligamento da fístula seria feito na segunda-feira. Nos avisaram que no mesmo dia seria colocado um cateter para que houvesse condições de diálise.
Eu tinha sempre um mesmo pedido a Deus. Se não fosse da vontade dEle, que os médicos não conseguissem puncionar artéria, veia, fosse o que fosse. Por três vezes ela entrou no centro cirúrgico e saiu sem catater. Mas seu braço desinchava.
Marcaram a colocação de um cateter peritoneal no dia seguinte. Era a única possibilidade de diálise. Novamente oramos. Daqui a pouco minha mãe retorna sem cateter. Várias explicações e uma transferência para o HCA.
Naquele dia, pela manhã, após orar, fui atualizar o blog e me veio à mente Romanos 8. Sabendo da transferência, me dirigi à capela do hospital onde estava sendo realizado um culto. Entrei e compartilhei. No final, o dirigente pediu que expuséssemos nossos pedidos de oração e eu permaneci calada. Ele me olhou diretamente e voltou a perguntar. Não resisti. Pedi por minha mãe. Ele orou por todos os pedidos, mas após a oração, olhou-me de novo diretamente e recitou Romanos 8: 31 e 37. Soube, naquele momento, que Deus me falava ao coração.
Paulo, meu marido, a acompanhou em uma ambulância e eu pedi que, ao chegar lá, ele relatasse o seu estado de saúde e solicitasse uma pesquisa para comprovação da necessidade da terapia renal, uma vez que minha mãe sempre eliminou muito líquido através da urina, condição que nos intrigava, pois havia restrição hidríca severa.
Confiávamos que toda essa saga provinha da mão de Deus. Paulo fez exatamente o combinado e enquanto aguardava a internação por duas horas, coletaram sangue para análise.
Ela foi internada no dia 17 de junho, véspera do seu aniversário de 83 anos. Havia algo no ar. No dia seguinte, as médicas que cuidaram dela em 2005 chegaram ao quarto. "Olá, onde está a D. Ruth?"
"Está tomando banho", respondeu Paulo.
"Tomando banho? Como assim? Ela está lúcida, consciente?"
"Sim, vejam, entrem no banheiro e conversem com ela."
Elas entraram. Conversaram com ela e sairam com uma expressão estranha nos olhos. Chamaram-no fora do quarto.
"Quantos dias sem diálise?"
"Quinze."
"Quinze??? Espere um pouco. Vamos pedir um exame de sangue."
"Mas ela já fez exame. Ontem."
Foram buscá-lo. Voltaram correndo. "Olhe, uma coisa eu já adianto. Ela não precisa de diálise."
Eu chegava nesse momento. Paulo me chamou. Pediu que me apressasse. Me aproximei. A médica continuou.
"Eu não posso garantir, mas quem precisa de hemodiálise não fica quinze dias sem fazer. Esperávamos encontrar uma paciente em coma à beira da morte. Ela não fará cirurgia nenhuma. Vamos fazer exames, monitorá-la e aguardar o resultado."
Eu sorri. Seria esse o presente?
Hoje pela manhã, a mesma rotina. "Raquel, quero água." "Não posso dar-lhe. Está em jejum. Vai fazer exame de sangue e sabe muito bem que não pode beber muita água."
Algum tempo depois, outra médica. Examinou-a. Fez perguntas e disse que ela teria alta. Recomendou uma dieta severa, marcou uma consulta, pediu exames e disse que minha mãe deveria tomar MUITA ÁGUA. kkkkk
Nos olhamos. O quê??? Água??? Ficamos loucos!!! "Não entendi mais nada." Disse o Paulo.
Ela nos olhou e respondeu que o doente renal que elimina líquido deve tomar muita água.
Minha mãe, que ouvia atentamente, sorriu e pediu: "quero água".
Com prazer, enchemos um graaaaande copo. Ela bebia e chorava de alegria. Mais um copo. Mais um copo. Nos confessou mais tarde: "só não pedi mais porque fiquei com vergonha."
"Agora posso parar de sonhar que furo um poço, que estou em um oásis no deserto, que estou tirando muito leite de uma vaca. Não preciso mais pedir uma caneca de água do mar. Posso até comer melancia." kkkkkk
Era assim que minha mãe acordava todos os dias. Cada noite um sonho. Ela passava a noite furando um poço e quando via a água "azulzinha", não podia tomar.
Em casa, na sua cama, nos segreda: "Hoje posso morrer, pois estou feliz, muito feliz."
Ao nos ajoelharmos esta noite para orar à beira de sua cama, fomos agraciados com a seguinte declaração: "Senhor, eu te amo."
Faço minhas suas palavras. Senhor, eu te amooooooooooooo
II aos Coríntios 4:8 e 9.
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados.
Perplexos, mas não desanimados.
Perseguidos, mas não desamparados.
Abatidos, mas não destruídos.
Se você chegou até aqui, quero compartilhar um vídeo. Em muitos momentos, durante toda a luta da minha mãe pela sua vida e saúde, eu e minha irmã Cely, nos ajoelhamos, oramos e choramos ao som de "Soldado Ferido".
Estamos em casa, recebemos alta hoje.
Mas tem muito mais... muito mais...
Minha mãe se casou aos 16 anos, quase 17. Era uma menina da roça, humilde e sem muitas pretensões, apenas a de ser feliz. Teve dez filhos. Hoje, oito vivos.
Meu pai, um belo "gajo", tinha 25 anos ao se casar e a vida extemporaneamente o fez gigante. Era mineiro e veio para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até morrer em 2004.
Ele era o cabeça da casa. Minha mãe deixou-se guiar por ele e confiou sua vida em suas mãos. Permaneceram casados por 61 anos.
Por isso quando falo de minha mãe, talvez estranhem o jeito. Mas ela era totalmente dependente do meu pai.
Sempre pensamos que minha mãe morreria antes que meu pai, pois acreditávamos que se meu pai a precedesse, ela não suportaria muito tempo. E foi aí, a despeito de todas as nossas suspeitas que a força de minha mãe se revelou.
Após a morte de meu pai, a saúde de minha mãe piorou consideravelmente. Os problemas se agravavam. Diabetes e alguma coisa em seu abdômen que os médicos não descobriam. Mas havia risco de morte. Nos disseram que precisavam descobrir a causa do problema, pois minha mãe poderia morrer subitamente.
Ela foi internada em julho de 2005 para fazer exames e descobrirem a causa de sua doença. Mais ou menos um mês depois, foi diagnosticada uma massa cística em seu abdômen que retinha líquido. Foi submetida a uma cirurgia e ficamos mais um mês no hospital para que se recuperasse. Os antibióticos utilizados intoxicaram seus rins e eles paralisaram em setembro de 2005. A partir daí começaram as sessões de hemodiálise.
Ela não entendia muito bem o que estava acontecendo. Nós sempre a alertávamos que se não se cuidasse, poderia ficar "naquela" máquina e ela respondia que se tivesse que ficar "naquela" máquina, preferia morrer. Talvez, por isso, a terapia de minha mãe fosse tão difícil para mim.
A hemodiálise consistia em três sessões semanais, de quatro horas cada.
O que mais doía, entretanto, era a restrição de líquidos, especialmente água. Tínhamos que inventar mil maneiras de não lhe dar água e isso rendia muitas brigas.
Mas ela não desistia e nem nós. Orávamos, orávamos e orávamos para Deus nos revelasse o propósito de tudo aquilo, pois eu cansei de ver minha mãe suplicar-Lhe que não a deixasse ficar "naquela" máquina.
Lá se vão quase quatro anos de batalha. Ultimamente, entretanto, minha mãe vinha piorando. Os leitores e alunos que me conhecem e têm acompanhado minha luta, sabem que não é de hoje que precisava adiar aulas, faltar etc. em virtude do problema de minha mãe.
Cada sessão de hemodiálise era, para nós, uma vitória. Vimos minha mãe saindo carregada, desfalecendo, agulhas no braço, cateter etc.
Sofríamos, chorávamos, ali na sala de espera, aguardando o fim de mais uma sessão. Daqui a pouco vinha ela, às vezes bem, às vezes mal, mas sempre sorrindo, tentando demonstrar que estava tudo bem.
Mas não sabíamos a suspresa de Deus. Desconfiei que Ele estava preprando alguma coisa ao permitir que ela ficasse internada em seu aniversário. Não era possível!!! Todos os dias nos ajoelhávamos diante de sua cama e orávamos, chorávamos baixinho, suplicávamos que Ele cuidasse dela, que não permitisse que minha mãe morresse "naquela" máquina. Eu pedia isso cada vez que a sessão começava. Lembrava a Ele do quanto ela orava, do quanto pedia. Cobrava dEle alguma providência. Às vezes me sentia impotente e desabava. Mas, logo alguma coisa acontecia para nos reerguer.
Há dois meses, aproximadamente, vocês sabem, minha mãe, devido a uma revisão de fístula, começou a exteriorizar problemas em seu sistema venoso (trombose e estenose). No dia seguinte ao do procedimento, o braço dela amanheceu muito inchado. Sua mão estava azul, cianótica. Como acompanhante de uma doente renal crônica, pude ver, muitas vezes, essa mesma história. O final, quase sempre era infeliz. Me desesperei. Voltei ao médico e questionei o inchaço. Ele me explicou com termos técnicos que isso era natural. Eu não me conformava. Voltei ao médico e questionei quanto à necessidade de novos exames. Ele disse ser desnecessário. Enquanto isso, o braço apenas piorava. Em uma das sessões de hemodiálise, a médica, assustada com o tamanho do braço, nos chamou e disse que minha mãe corria o risco de perdê-lo. Era tudo o que eu não queria ouvir. Resolvemos procurar outro cirurgião vascular e a cada consulta, perguntávamos sobre o risco de amputação. A resposta era sempre negativa e lá vinha uma novidade, mas nenhuma solução.
O meu desespero aumentava na mesma proporção que o seu braço crescia. Orava e perguntava a Deus o propósito. Nada. Como minha mãe dizia: "Ele ficou quieto".
No dia 10 de junho, após a terceira tentativa de desobstrução e ligadura de perfurante, sei lá mais o quê, nos dirigimos à clínica de hemodiálise. O braço já estava completamente rijo, uma coloração avermelhada, quente, muito quente. Começava a doer. A médica recusou-se a puncioná-lo, graças a Deus, pois eu questionava cada punção naquele braço.
Agora quem se desesperava era a médica. Disse que minha mãe precisava ser internada imediatamente para uma sessão de DIÁLISE, pois seu principal problema naquele momento não era o braço, mas sim, sua disfunção renal. Eu não concordava.
Depois de várias ligações, nos encaminhou para o Hospital Central da Aeronáutica, onde a equipe da nefrologia daria um jeito de "fabricar um acesso" para dialisar. Nos disse que, possivelmente, o acesso seria pela barriga e que ela ficaria dialisando por 24 horas.
Eu morri. Não conseguia imaginar minha mãe sendo submetida a mais esse estresse. Mas ela afirmava que isso salvaria sua vida. Liguei para minha família e expus a situação. Decidimos, eu e meu marido, nos dividir. Ele seguiria para o HCA (nefro) com a minha mãe e eu, para o HFAG (vascular), tentando que eles realizassem o procedimento de desligamento da fístula.
Mas naquela noite, após orarmos, durante o sono, eu senti fortemente a sensação de que não deveria levar minha mãe ao HCA. Deveria seguir com ela primeiro ao HFAG. Desobedeci à ordem médica. Perguntei ao meu marido se ele concordava. Liguei para um dos meus irmãos e perguntei se ele apoiava a minha decisão. E foi o que fizemos.
No dia 12 de junho, seguimos com minha mãe para o HFAG. Encontramos a equipe da cirurgia vascular e em quinze minutos estávamos com sua internação autorizada para domingo à tarde. O procedimento de desligamento da fístula seria feito na segunda-feira. Nos avisaram que no mesmo dia seria colocado um cateter para que houvesse condições de diálise.
Eu tinha sempre um mesmo pedido a Deus. Se não fosse da vontade dEle, que os médicos não conseguissem puncionar artéria, veia, fosse o que fosse. Por três vezes ela entrou no centro cirúrgico e saiu sem catater. Mas seu braço desinchava.
Marcaram a colocação de um cateter peritoneal no dia seguinte. Era a única possibilidade de diálise. Novamente oramos. Daqui a pouco minha mãe retorna sem cateter. Várias explicações e uma transferência para o HCA.
Naquele dia, pela manhã, após orar, fui atualizar o blog e me veio à mente Romanos 8. Sabendo da transferência, me dirigi à capela do hospital onde estava sendo realizado um culto. Entrei e compartilhei. No final, o dirigente pediu que expuséssemos nossos pedidos de oração e eu permaneci calada. Ele me olhou diretamente e voltou a perguntar. Não resisti. Pedi por minha mãe. Ele orou por todos os pedidos, mas após a oração, olhou-me de novo diretamente e recitou Romanos 8: 31 e 37. Soube, naquele momento, que Deus me falava ao coração.
Paulo, meu marido, a acompanhou em uma ambulância e eu pedi que, ao chegar lá, ele relatasse o seu estado de saúde e solicitasse uma pesquisa para comprovação da necessidade da terapia renal, uma vez que minha mãe sempre eliminou muito líquido através da urina, condição que nos intrigava, pois havia restrição hidríca severa.
Confiávamos que toda essa saga provinha da mão de Deus. Paulo fez exatamente o combinado e enquanto aguardava a internação por duas horas, coletaram sangue para análise.
Ela foi internada no dia 17 de junho, véspera do seu aniversário de 83 anos. Havia algo no ar. No dia seguinte, as médicas que cuidaram dela em 2005 chegaram ao quarto. "Olá, onde está a D. Ruth?"
"Está tomando banho", respondeu Paulo.
"Tomando banho? Como assim? Ela está lúcida, consciente?"
"Sim, vejam, entrem no banheiro e conversem com ela."
Elas entraram. Conversaram com ela e sairam com uma expressão estranha nos olhos. Chamaram-no fora do quarto.
"Quantos dias sem diálise?"
"Quinze."
"Quinze??? Espere um pouco. Vamos pedir um exame de sangue."
"Mas ela já fez exame. Ontem."
Foram buscá-lo. Voltaram correndo. "Olhe, uma coisa eu já adianto. Ela não precisa de diálise."
Eu chegava nesse momento. Paulo me chamou. Pediu que me apressasse. Me aproximei. A médica continuou.
"Eu não posso garantir, mas quem precisa de hemodiálise não fica quinze dias sem fazer. Esperávamos encontrar uma paciente em coma à beira da morte. Ela não fará cirurgia nenhuma. Vamos fazer exames, monitorá-la e aguardar o resultado."
Eu sorri. Seria esse o presente?
Hoje pela manhã, a mesma rotina. "Raquel, quero água." "Não posso dar-lhe. Está em jejum. Vai fazer exame de sangue e sabe muito bem que não pode beber muita água."
Algum tempo depois, outra médica. Examinou-a. Fez perguntas e disse que ela teria alta. Recomendou uma dieta severa, marcou uma consulta, pediu exames e disse que minha mãe deveria tomar MUITA ÁGUA. kkkkk
Nos olhamos. O quê??? Água??? Ficamos loucos!!! "Não entendi mais nada." Disse o Paulo.
Ela nos olhou e respondeu que o doente renal que elimina líquido deve tomar muita água.
Minha mãe, que ouvia atentamente, sorriu e pediu: "quero água".
Com prazer, enchemos um graaaaande copo. Ela bebia e chorava de alegria. Mais um copo. Mais um copo. Nos confessou mais tarde: "só não pedi mais porque fiquei com vergonha."
"Agora posso parar de sonhar que furo um poço, que estou em um oásis no deserto, que estou tirando muito leite de uma vaca. Não preciso mais pedir uma caneca de água do mar. Posso até comer melancia." kkkkkk
Era assim que minha mãe acordava todos os dias. Cada noite um sonho. Ela passava a noite furando um poço e quando via a água "azulzinha", não podia tomar.
Em casa, na sua cama, nos segreda: "Hoje posso morrer, pois estou feliz, muito feliz."
Ao nos ajoelharmos esta noite para orar à beira de sua cama, fomos agraciados com a seguinte declaração: "Senhor, eu te amo."
Faço minhas suas palavras. Senhor, eu te amooooooooooooo
II aos Coríntios 4:8 e 9.
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados.
Perplexos, mas não desanimados.
Perseguidos, mas não desamparados.
Abatidos, mas não destruídos.
Se você chegou até aqui, quero compartilhar um vídeo. Em muitos momentos, durante toda a luta da minha mãe pela sua vida e saúde, eu e minha irmã Cely, nos ajoelhamos, oramos e choramos ao som de "Soldado Ferido".