Quem já entrou numa mata, num dia de chuva forte e ventos cortantes, sabe que não existe espetáculo mais sombrio nem sons mais lúgubres.
É o vento assobiando por entre os galhos de árvores, quase completamente desfolhados. É o gotejar da chuva, caindo sobre os montes de folhas secas no chão. É o sopro do vento levantando no ar as folhas, que voam para o fundo da mata, como que indo para um túmulo. São as delicadas cores dos troncos e musgos, agora manchadas e desfeitas pela água que escorre.
Como é difícil crer que uma floresta de cenário tão sombrio possa ser a mesma do verão, cheia de tanta beleza!
No entanto nós sabemos que esse mesmo vento que está agitando as árvores e zumbindo de modo tão lúgubre, essa mesma chuva que escorre, essas mesmas folhas que estão apodrecendo, irão ajudar a floresta a se "vestir" de verde.
Eles irão fazer a mata cantar de alegria e pulsar com vida. Esses ventos, esse clima adverso, contribuem para a formação de árvores fortes, de raizes profundas. Até mesmo o furacão que as desfolha e lhes quebra os galhos revitaliza sua capacidade básica, obrigando-as a exercitar mais força.
Se alguém decepar uma árvore ao meio, o tronco se tornará mais firme, mais compacto e exibirá um crescimento mais simétrico. Se ela for arrancada por uma ventania, suas sementes se espalharão e acabarão dando origem a uma nova floresta. Ao serem destruídas, tais árvores voltam para o solo, de onde vão brotar outras árvores.
Assim também nós, hoje, podemos ser mais fortes, mais puros e melhores, por causa das lágrimas, dos gemidos e dos sofrimentos de ontem. Então sabemos, e todo mundo sabe, que nossa vida está mais rica, mais equilibrada e confiável, menos egocêntrica, menos ligada àquilo que nos vem pelos sentidos. Sabemos que toda a atmosfera que nos cerca se acha mais pura e mais cheia de energia.
Aquele que sabe enxergar em meio à tempestade, as bênçãos, agradece. Ela nos sacode, libertando-nos da calmaria que enfraquece.
As tempestades fortalecem as árvores. O sofrimento deixa o homem mais forte.
Adaptado de Fontes no Vale
Lettie Cowman
Foto: Beija-flor preto sob a chuva.