Quando chegou aqui em casa, era bem pequeno e magrelo. Estava debilitado, infestado de carrapatos, o maior barrigão...
Sem problemas, apaixonamo-nos, como todos os outros.
Sentiu-se um membro da família. Logo, logo ficou amigo do Léo. Corriam pela casa brincando, fazendo aquela bagunça!!!
Cuidamos dele. Transformou-se em um lindo filhote e, como você sabe, muito especial. Mas não engordava por nada.
Algum tempo depois comecei a observar que ele não queria alimentar-se.
Foi emagrecendo, emagrecendo e um dia, já desesperada, abracei-o e comecei a chorar.
Não queria que ele morresse. Jiló é, dentre todos os nossos cães, o mais apegado a mim.
Foi levado ao veterinário. Era parvovirose. Imediatamente internado!!!
No dia seguinte, fomos visitá-lo. Ao chegarmos à clínica, os veterinários estavam ocupados com um cão em estado grave. Como já nos conhecem, fomos entrando à procura do Jiló. De repente, ele nos vê. Estava em uma cela, com o "cone da vergonha". Precisaram colocar porque ele comia todos os equipos do soro.
Quando nos viu, começou a chorar tão alto que tivemos que sair correndo da clínica para não levarmos uma bronca. Uma semana depois, voltava para casa. Que alegria!!! Foi uma festa!!! Recuperou-se, mas não engordava. Isso incomodava. Trocava a ração, comprava suplementos alimentares e nada. Ele é um cachorrinho bem guloso!!!
Será que ele sabe que estou falando dele? Fica aqui, sempre deitado aos meus pés, sob o rack, num aperto para nós dois. Ele não consegue deitar direito e eu não consigo sentar direito. Mas prefiro assim.
Algumas semanas atrás, uma ferida estranha, tipo um nódulo de espinho começou a surgir nas suas patas dianteiras. Como sempre, comecei:
"Paulo, já viu as patas do Jiló? Esquisito aquilo."
"Não deve ser nada. Talvez um espinho."
Todos os dias olhava as patas dele. Vigiava. Comecei a perceber uns movimentos involuntários. Ele estava deitado e as patas da frente começavam a "pular" sozinhas, sem que ele movesse o corpo. Hummmm, isso não está legal.
"Paulo, você já viu essa coisa no Jiló? Ele fica tremendo, as patas ficam movendo-se de forma esquisita."
"Não, não vi".
Eu sou mais desesperada com essas coisas. Acabo vendo tudo primeiro porque fico vigiando. Sou mais carinhosa, mas pegajosa com os bichos. Abraço apertado, afagos e vez ou outra, descubro algo.
Os nódulos começaram a aumentar. Um dia, ele estava deitado ao lado da cama e quando olhei, havia sangue no chão. Eu sou uma molenga. Quase desmaiei da última vez que fui levar minha mãe para fazer exame de sangue. Não conseguiam achar uma veia decente e aquele "procura veia daqui, procura veia dali" começou a me deixar zonza. Nada de achar a veia da veia. A Neuza olhou pra mim e disse: "Paulo, a Raquel vai cair." Eu já estava sem cor.
Deus me deu a pessoa certa. Sou forte para outras coisas, mas quando vejo um sanguinho....
Lá veio o Paulo e quando levantou a pata do Jiló, o "espinho" já era uma ferida aberta... Foi para a internet. Pesquisas e pesquisas, achou algo parecido: pododermatite. Compramos o medicamento e a ferida começou a sarar. Ehhhhhh... Bingo!!!! Acertou de novo, Sr. Dr. Paulo. Nesse meio tempo, tentávamos fazer com que o veterinário viesse para uma visita.
Nada disso. Dias depois o remédio não surtia mais efeito. Já comecei a desesperar. O Jiló começou a tremer. Ficava parado, deitado perto de mim e sem mais nem menos, tremia. Consegui mostrar ao Paulo. Ele estranhou.
Enfim, conseguimos a visita do veterinário. Ele olhou e disse não conhecer nada parecido. Examinou o Jiló, viu que estava nutrido, esperto, mucosas coradas, mas também estranhou a magreza. Colheu sangue para exame e pediu que aguardássemos o resultado antes de medicá-lo. Foi aí a surpresa!!!
Contra todas as expectativas, Jiló estava com uma profunda anemia causada por Babesiose.
Suspendeu a medicação e marcou a data para uma transfusão de sangue.
Suspendeu a medicação e marcou a data para uma transfusão de sangue.
A Babesiose é uma doença parasitária, não transmissível ao homem. Seu agente transmissor é o carrapato Rhipicephalus sanguineus, que parasita e destrói as células sanguíneas do animal causando anemia podendo, inclusive, levá-lo à morte.
O carrapato contamina-se pela Babésia ao se alimentar do sangue de um animal já contaminado e, ao picar um animal sadio, dá continuidade ao ciclo de contaminação.
Uma vez contaminado, o anima apresenta como sintomas a perda de apetite, febre, desânimo, fezes acompanhadas de sangue, palidez nas mucosas conjuntiva e bucal, além de sangramentos no nariz, boca e ponta das orelhas.
Pronto!!! Essa, não!!! Mas não sabíamos ainda da gravidade dos fatos. O dia da transfusão chegou. Os médicos vieram buscá-lo. Eu não quis ver. Minha mãe abriu a boca.
Durante todo aquele dia ficamos apreensivos. Paulo escondeu-me algumas coisas que só agora sei. Jiló estava tão debilitado que poderia morrer durante o sono. À tarde ele retornou, já amigo dos veterinários. Precisava ficar de repouso e por isso passou a dormir dentro de casa. Ainda está em recuperação. Sua pata ainda está bem machucada, mas o principal agora é livrá-lo da doença.
Ele continua correndo atrás dos gatos.
Não sei como seria sem ele e nem quero saber.
Fotos: O enfermo folgando. Agora pode até subir na cama que minha mãe nem liga. "Coitado do cachorrão, né, minha filha?"