Talvez você nem esteja se dando conta, afinal o lugar não importa. O que importa mesmo é que eles, seus filhos, se lembrem do dia, que peguem seus telefones, que saiam de suas casas e estejam presentes. Onde estiver. Isso é o que importa.
Desde domingo está "presa" em um hospital, como você mesma diz.
Pede que eu a traga comigo todos os dias. Mas não posso.
Quisera eu poder arrebatá-la e fugir como fazíamos na minha infância.
Quando sentia saudades do seu povo e sem saber o caminho, me pedia, eu, uma menina de poucos anos, sete ou oito talvez, que a levasse.
Então saíamos, as duas, por aquele beco, naquele bairro, atravessávamos aqueles trilhos e fugíamos até o outro lado do mundo. Sim, porque para mim, era o outro lado do mundo.
Nem sei como conseguíamos chegar ao nosso destino, eu apenas decorava os ônibus e o lugar onde deveríamos saltar. Você era conduzida por uma menina. Uma menina guiando pela mão, sua mãe.
Sair de Senador Camará e chegar a Itaguaí era uma aventura que eu adorava. Me orgulhava de nunca errar o caminho. Orgulho de criança. Me orgulhava em contar como a salvei do trem, quando quase fomos atropeladas, lembra? Eu apenas a empurrei para longe dos trilhos e pulei. Duas crianças...
E aquele dia em que aquela vaca veio em nossa direção e foi chegando cada vez mais perto? Que pavor!!! Os chifrões dela eram enormes. Eu fiquei na sua frente como se pudesse protegê-la. Ainda bem que ela desistiu de nós. rsrs
Nossas aventuras eram demais!!! Lembra quando voltávamos da Igreja? Tínhamos que atravessar todo aquele quintal cheio de laranjeiras e, papai, que economizava cada centavo, não deixava as luzes acesas. Apenas uma, no início do caminho. O resto era um escurão. Íamos grudadas, morrendo de medo. Aquelas sombras nas árvores... uuuuui
De repente, um cavalo saiu de trás de uma delas. Nem deu tempo para saber quem correu primeiro. kkkk Só sei que, aos gritos, chegamos em casa rapidinho. kkkkk
E ríamos... ríamos...
Mas você não mudou. É a mesma criança. Onde chega todos a amam, pois não conseguem parar de rir.
Essa sua alegria contagiante nos faz fortes para enfrentar qualquer coisa.
Age como se nada estivesse acontecendo. Eles chegam e dizem que nao foi possível realizar o procedimento porque não há acesso para que seja sedada.
Mas você está feliz. Feliz porque seu braço já não está tão inchado. Eles a transferem de um hospital a outro e nem sabem que dia é hoje.
Nem sei se eles sabem o que fazer, nem mesmo sei se eles esperam fazer alguma coisa, mas acreditamos que estão tentando. Eu e você acreditamos. Mas eles não imaginam...
Que presente será, mãe, que Deus lhe tem reservado?
Feliz Aniversário!!!! Eu a amo demais.