Fico apreensiva todas as vezes que marcam algum procedimento médico para minha mãe. É como se a avalanche com todas as coisas que ela tem passado desabasse de uma só vez sobre mim.
Um filme me vem à mente...
Para que a terapia de hemodiálise seja feita, minha mãe possui uma fístula arteriovenosa no braço esquerdo, uma espécie de canal condutor de acesso à máquina de filtragem.
Há alguns dias descobriu-se que sua fístula estava falindo e que ela teria que fazer uma outra no braço direito ou um outro procedimento para tornar possível a terapia.
O filme...
Lembro-me do cateter. O filme... vejo quantos já estiveram ali, no pescoço, no peito, na virilha direita, na virilha esquerda...
Começam a falar sobre isso com minha mãe. Teremos que ver seu braço, talvez abri-lo novamente para uma nova fístula.
Ela não acredita. Seu braço está muito bom, não precisa de nada. Não dói, não está vermelho ou roxo. O questionário... Todos os dias me pergunta: "minha filha, eu tenho mesmo que ir ao médico?" "Meu braço está bom, não sinto nada..."
Tento animá-la, conto histórias, invento coisas. Chega o dia da consulta.
Ela ouve várias explicações e não entende nada do que estão falando, mas nós entendemos. Uma coisa no meio da conversa é retida por seus ouvidos. Talvez ela tenha que ficar uns quinze dias sem fazer hemodiálise. Ela sorri. Nem todo o medo da cirurgia consegue tirar dela a alegria pela boa notícia. O médico continua explicando o que pretende fazer. Ela ouve, em silêncio. Daqui a pouco, sua voz: "se vocês forem cortar meu braço, vão aplicar anestesia, né? " O médico sorri. "Claro!" Ela se tranquiliza.
Mas eu desabo. Acho que em nossas vidas ninguém mais do que minha mãe aprendeu o significado dessa frase de Paulo em II aos Coríntios 12:10. "Quando estou fraco é que me sinto forte."
Eu ainda tenho muito o que aprender. Ela é muito mais forte que eu, confesso. Aceita tudo resignadamente.
Chega o dia previsto. Já sabia de todo o procedimento, mas não tive coragem de contar a ela. Não consegui contar que possivelmente seu braço direito sofreria uma incisão para a instalação da nova fístula. Mas ela não é boba, é altamente perspicaz. Já sabia que algo a aguardava. Chegamos muito cedo, eu, muito mais apreensiva que ela. Precisava arranjar um jeito de contar.
Que demora!!! Duas horas e nada. Minha mãe começa a ficar impaciente. Começo a inventar histórias engraçadas. Me levanto e vou à recepção saber o que está acontecendo. Descubro que uma paciente que chegou depois de minha mãe foi colocada na frente e que ainda vai demorar umas duas horas. Não consigo conter as lágrimas. Meu marido me abraça e me leva para longe de minha mãe. Ela não pode me ver chorar. Me escondo atrás de uma pilastra e choro, choro, choro... Enxugo as lágrimas e retorno. Um enfermeiro chega e pergunta se ela quer esperar na sala de preparação do centro cirúrgico. Ela olha para mim. "O que acha, minha filha, devemos tentar?" Respondo que sim. Subimos. Na sala, nos dão uma roupa verde, sapatos e toucas especiais. Mais uma vez ela olha para mim. "Vão me operar, certo? Eu já sabia." Depois que troco suas roupas, meu marido ajuda a colocá-la na maca. Ela deita, sorri para nós e é levada para a sala onde terá que aguardar sozinha.
Não há condenação em seus olhos, não há tristeza, apenas uma calma, uma aceitação clara de que sua vida pertence a Deus.
Eu sei que ela ainda perguntará por mim algumas vezes aos enfermeiros, mas sei que no momento de enfrentar mais uma vez aquela sala, ela estará preparada.
Quatro horas de espera e nada de notícias. Daqui a pouco escuto: "acompanhante da D. Ruth..." Olho para o balcão e pedem que eu suba.
Subo a rampa devagar, já exausta, sem forças. A porta do centro cirúrgico. Trazem uma maca. Sobre ela minha mãe, o braço enfaixado. Ao me ver, seus olhos se abrem em um sorriso. "E aí, minha filha, ficou muito tempo me esperando? Já almoçou?"
Me sinto renovada, minhas forças voltam, eu respondo. "Não, mãe, estava esperando você."
Amanhã, eu sei, haverá novo capítulo. Mas minha mãe sabe que na sua fraqueza, Deus se revela.
Um filme me vem à mente...
Para que a terapia de hemodiálise seja feita, minha mãe possui uma fístula arteriovenosa no braço esquerdo, uma espécie de canal condutor de acesso à máquina de filtragem.
Há alguns dias descobriu-se que sua fístula estava falindo e que ela teria que fazer uma outra no braço direito ou um outro procedimento para tornar possível a terapia.
O filme...
Lembro-me do cateter. O filme... vejo quantos já estiveram ali, no pescoço, no peito, na virilha direita, na virilha esquerda...
Começam a falar sobre isso com minha mãe. Teremos que ver seu braço, talvez abri-lo novamente para uma nova fístula.
Ela não acredita. Seu braço está muito bom, não precisa de nada. Não dói, não está vermelho ou roxo. O questionário... Todos os dias me pergunta: "minha filha, eu tenho mesmo que ir ao médico?" "Meu braço está bom, não sinto nada..."
Tento animá-la, conto histórias, invento coisas. Chega o dia da consulta.
Ela ouve várias explicações e não entende nada do que estão falando, mas nós entendemos. Uma coisa no meio da conversa é retida por seus ouvidos. Talvez ela tenha que ficar uns quinze dias sem fazer hemodiálise. Ela sorri. Nem todo o medo da cirurgia consegue tirar dela a alegria pela boa notícia. O médico continua explicando o que pretende fazer. Ela ouve, em silêncio. Daqui a pouco, sua voz: "se vocês forem cortar meu braço, vão aplicar anestesia, né? " O médico sorri. "Claro!" Ela se tranquiliza.
Mas eu desabo. Acho que em nossas vidas ninguém mais do que minha mãe aprendeu o significado dessa frase de Paulo em II aos Coríntios 12:10. "Quando estou fraco é que me sinto forte."
Eu ainda tenho muito o que aprender. Ela é muito mais forte que eu, confesso. Aceita tudo resignadamente.
Chega o dia previsto. Já sabia de todo o procedimento, mas não tive coragem de contar a ela. Não consegui contar que possivelmente seu braço direito sofreria uma incisão para a instalação da nova fístula. Mas ela não é boba, é altamente perspicaz. Já sabia que algo a aguardava. Chegamos muito cedo, eu, muito mais apreensiva que ela. Precisava arranjar um jeito de contar.
Que demora!!! Duas horas e nada. Minha mãe começa a ficar impaciente. Começo a inventar histórias engraçadas. Me levanto e vou à recepção saber o que está acontecendo. Descubro que uma paciente que chegou depois de minha mãe foi colocada na frente e que ainda vai demorar umas duas horas. Não consigo conter as lágrimas. Meu marido me abraça e me leva para longe de minha mãe. Ela não pode me ver chorar. Me escondo atrás de uma pilastra e choro, choro, choro... Enxugo as lágrimas e retorno. Um enfermeiro chega e pergunta se ela quer esperar na sala de preparação do centro cirúrgico. Ela olha para mim. "O que acha, minha filha, devemos tentar?" Respondo que sim. Subimos. Na sala, nos dão uma roupa verde, sapatos e toucas especiais. Mais uma vez ela olha para mim. "Vão me operar, certo? Eu já sabia." Depois que troco suas roupas, meu marido ajuda a colocá-la na maca. Ela deita, sorri para nós e é levada para a sala onde terá que aguardar sozinha.
Não há condenação em seus olhos, não há tristeza, apenas uma calma, uma aceitação clara de que sua vida pertence a Deus.
Eu sei que ela ainda perguntará por mim algumas vezes aos enfermeiros, mas sei que no momento de enfrentar mais uma vez aquela sala, ela estará preparada.
Quatro horas de espera e nada de notícias. Daqui a pouco escuto: "acompanhante da D. Ruth..." Olho para o balcão e pedem que eu suba.
Subo a rampa devagar, já exausta, sem forças. A porta do centro cirúrgico. Trazem uma maca. Sobre ela minha mãe, o braço enfaixado. Ao me ver, seus olhos se abrem em um sorriso. "E aí, minha filha, ficou muito tempo me esperando? Já almoçou?"
Me sinto renovada, minhas forças voltam, eu respondo. "Não, mãe, estava esperando você."
Amanhã, eu sei, haverá novo capítulo. Mas minha mãe sabe que na sua fraqueza, Deus se revela.
4 comentários:
me acabeui de chorar....ah vc!!!!!!
Boa noite Raquel! meu nome é Andrea,
somos irmã em cristo,sou da maranata
da tijuca(pastor Paulo Brito).Conheci
vc nas aulas de legislação pro PGE,mas parece que lhe conheço a anos,tenho um grande carinho por vc.Verdadeiramente vc é mais que vencedora,e que cristo possa te abençoar cada dia mais e mais,lendo este artigo lembrei-me da canção da Ludmila (nunca pare de lutar)que é muito linda.Nunca pare de lutar Raquel!Deus te abençoe.beijinhos!
Obrigada Andrea. Nos conhecemos sim, desde a fundação de tudo. Beijos
Ô chorona, saudades de vc. Beijos
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