A sensibilidade social e musical herdada do avô e da mãe o levou, ainda menino, a ajudar crianças pobres da periferia “dando-lhes a comida que fazia falta em casa”.
Morava perto do cemitério e durante a seca via passar “caixão de anjo” quase todo dia, lembra ele.
Um dia, notou que ao tocar violão, aprendido desde os 9 anos, despertava vivo interesse dos meninos pobres, mesmo os alunos mais rebeldes.
Decidiu então, intuitivamente, aos 15 anos, em 1978, unir música e trabalho social.
Criou um coral que cantava nas missas, tocava violão nos bairros, arranjou instrumentos e salas emprestadas para aulas.
“Desde então, trabalho de domingo a domingo nisso”, vencendo críticas e a descrença inicial na sua “loucura”. Foi então que sentiu necessidade de estudar música a sério, fez, durante 10 anos, o Conservatório em Recife, a 150 KM. E depois, a faculdade de música em João Pessoa (mais 120 KM de Recife), bacharelando-se em flauta transversa.
As longas viagens semanais não interromperam as atividades em São Caetano.
Foi aprendendo e ensinando aos meninos, encarregando-se de diversos instrumentos.
Sua banda conta apenas com instrumentos de sopro, além das vozes.
Segue a tradição local, que é a das bandas de pífanos, explica o maestro, que só agora está fazendo o mestrado em Regência por uma universidade americana – que o obriga a periódicas idas a Recife.
A sua preocupação com as raízes culturais do agreste fica patente no repertório dos espetáculos e discos da banda, na sua recusa a convites para estudar ou trabalhar no exterior e até mesmo nos seus estudos tardios. Quis consolidar as raízes antes de freqüentar a academia, explicou. Dos primeiros meninos e meninas que formou, muitos(as) são hoje músicos de várias instituições em outras cidades, principalmente bandas militares.
Uma delas, Iris Vieira, tornou-se a única mulher a tocar tuba numa orquestra sinfônica brasileira, ao ser aprovada, em primeiro lugar, num concurso para a Orquestra de Recife. Cursa agora a universidade, além de continuar na banda.
A turma que integra a Banda do Agreste, meninos(as) da primeira geração, hoje beirando os 30 anos, são estimulados a graduar-se na universidade e mantêm-se fiéis ao projeto de São Caetano, dando aulas como voluntários(as), além de doarem parte do que ganham para manter a fundação.
É o caso de Iris e também de Maria Lauciete da Silva, agora professora de oboé, recém-graduada na Universidade Federal da Paraíba, “porque Recife não tem o curso”. Lauciete está no projeto desde os 8 anos. Foi atraída ao coro formado pelo “maestro” há 22 anos. “Ele mudou a minha vida e a mentalidade da minha família”, reconheceu. Filha de camponeses, Lauciete teve de trabalhar para financiar seus estudos, que também incluíram graduação em língua portuguesa. “Sempre quis ser professora”, contou, mas agora realiza sua vocação na música. Teve de vencer a resistência do pai e da mãe, que “rejeitavam a música como profissão”.
Na cultura local, cabe às mulheres “o trabalho doméstico ou na escola”.
Aprender música clássica “agravou o choque”, mas, pouco a pouco, a família aceitou e hoje um de seus irmãos estuda clarinete.
Além da banda, ela tem como fonte de renda as aulas de canto que dá a um coral criado por uma empresa. “Posso até ir para o exterior fazer um curso, mas volto a São Caetano”, garantiu.
A banda, inicialmente de 35 componentes, foi reduzida à metade para facilitar as apresentações em locais distantes, barateando os custos de transporte e hotéis, segundo Mozart. Seu sonho é que algum patrocínio ou outra fonte de recursos permita ampliar a fundação e afastar a constante ameaça de insolvência.
A sede tem capacidade para receber apenas 200 alunos(as), mas a cada ano se candidatam entre 400 e 500 pessoas, ressaltou. Ele calcula que o projeto já beneficiou cerca de mil meninos e meninas, o que é significativo num município que tem cerca de 8 mil estudantes no ensino fundamental e 35 mil habitantes. A fundação, que existe desde 1993, está em processo de reconhecimento como instituição de ensino profissionalizante pelo governo estadual de Pernambuco, o que pode abrir novos horizontes.
Por enquanto, seu ensino é complementar, para crianças e adolescentes de 7 a 18 anos, e exige-se que sejam bons estudantes em escolas regulares. A música melhora o desempenho escolar, garantiu Maria José dos Santos, de 17 anos, que estuda oboé com Lauciete e afirma “conhecer crianças endiabradas que se disciplinaram e ganharam interesse pelas aulas”. Mozart, no entanto, já enfrentou reações violentas à sua atividade.
Há 11 anos, foi acusado de ter promovido o seqüestro de um de seus alunos, que apareceu com sinais de agressão. Isso lhe rendeu um escândalo e um penoso processo judicial, arquivado após manifestações de solidariedade de músicos famosos, como Ivan Lins. Foi uma armação de “coronéis” da política local, temerosos de que o maestro usasse a popularidade para disputar algum cargo político, segundo Paulo Thiago, que incluirá o incidente no seu filme "Orquestra dos Meninos".
Jornal da Cidadania nº 135 – junho de 2006.
Saiba mais: Fundação Música e Vida http://users.telenet.be/bandadesaocaetano/Fundacaopt.htm
Foto: http://users.telenet.be/bandadesaocaetano/Foto%20overzicht.htm
“Desde então, trabalho de domingo a domingo nisso”, vencendo críticas e a descrença inicial na sua “loucura”. Foi então que sentiu necessidade de estudar música a sério, fez, durante 10 anos, o Conservatório em Recife, a 150 KM. E depois, a faculdade de música em João Pessoa (mais 120 KM de Recife), bacharelando-se em flauta transversa.
As longas viagens semanais não interromperam as atividades em São Caetano.
Foi aprendendo e ensinando aos meninos, encarregando-se de diversos instrumentos.
Sua banda conta apenas com instrumentos de sopro, além das vozes.
Segue a tradição local, que é a das bandas de pífanos, explica o maestro, que só agora está fazendo o mestrado em Regência por uma universidade americana – que o obriga a periódicas idas a Recife.
A sua preocupação com as raízes culturais do agreste fica patente no repertório dos espetáculos e discos da banda, na sua recusa a convites para estudar ou trabalhar no exterior e até mesmo nos seus estudos tardios. Quis consolidar as raízes antes de freqüentar a academia, explicou. Dos primeiros meninos e meninas que formou, muitos(as) são hoje músicos de várias instituições em outras cidades, principalmente bandas militares.
Uma delas, Iris Vieira, tornou-se a única mulher a tocar tuba numa orquestra sinfônica brasileira, ao ser aprovada, em primeiro lugar, num concurso para a Orquestra de Recife. Cursa agora a universidade, além de continuar na banda.
A turma que integra a Banda do Agreste, meninos(as) da primeira geração, hoje beirando os 30 anos, são estimulados a graduar-se na universidade e mantêm-se fiéis ao projeto de São Caetano, dando aulas como voluntários(as), além de doarem parte do que ganham para manter a fundação.
É o caso de Iris e também de Maria Lauciete da Silva, agora professora de oboé, recém-graduada na Universidade Federal da Paraíba, “porque Recife não tem o curso”. Lauciete está no projeto desde os 8 anos. Foi atraída ao coro formado pelo “maestro” há 22 anos. “Ele mudou a minha vida e a mentalidade da minha família”, reconheceu. Filha de camponeses, Lauciete teve de trabalhar para financiar seus estudos, que também incluíram graduação em língua portuguesa. “Sempre quis ser professora”, contou, mas agora realiza sua vocação na música. Teve de vencer a resistência do pai e da mãe, que “rejeitavam a música como profissão”.
Na cultura local, cabe às mulheres “o trabalho doméstico ou na escola”.
Aprender música clássica “agravou o choque”, mas, pouco a pouco, a família aceitou e hoje um de seus irmãos estuda clarinete.
Além da banda, ela tem como fonte de renda as aulas de canto que dá a um coral criado por uma empresa. “Posso até ir para o exterior fazer um curso, mas volto a São Caetano”, garantiu.
A banda, inicialmente de 35 componentes, foi reduzida à metade para facilitar as apresentações em locais distantes, barateando os custos de transporte e hotéis, segundo Mozart. Seu sonho é que algum patrocínio ou outra fonte de recursos permita ampliar a fundação e afastar a constante ameaça de insolvência.
A sede tem capacidade para receber apenas 200 alunos(as), mas a cada ano se candidatam entre 400 e 500 pessoas, ressaltou. Ele calcula que o projeto já beneficiou cerca de mil meninos e meninas, o que é significativo num município que tem cerca de 8 mil estudantes no ensino fundamental e 35 mil habitantes. A fundação, que existe desde 1993, está em processo de reconhecimento como instituição de ensino profissionalizante pelo governo estadual de Pernambuco, o que pode abrir novos horizontes.
Por enquanto, seu ensino é complementar, para crianças e adolescentes de 7 a 18 anos, e exige-se que sejam bons estudantes em escolas regulares. A música melhora o desempenho escolar, garantiu Maria José dos Santos, de 17 anos, que estuda oboé com Lauciete e afirma “conhecer crianças endiabradas que se disciplinaram e ganharam interesse pelas aulas”. Mozart, no entanto, já enfrentou reações violentas à sua atividade.
Há 11 anos, foi acusado de ter promovido o seqüestro de um de seus alunos, que apareceu com sinais de agressão. Isso lhe rendeu um escândalo e um penoso processo judicial, arquivado após manifestações de solidariedade de músicos famosos, como Ivan Lins. Foi uma armação de “coronéis” da política local, temerosos de que o maestro usasse a popularidade para disputar algum cargo político, segundo Paulo Thiago, que incluirá o incidente no seu filme "Orquestra dos Meninos".
Jornal da Cidadania nº 135 – junho de 2006.
Saiba mais: Fundação Música e Vida http://users.telenet.be/bandadesaocaetano/Fundacaopt.htm
Foto: http://users.telenet.be/bandadesaocaetano/Foto%20overzicht.htm
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