domingo, 18 de janeiro de 2009

Em meio às chamas...

Certa vez alguém relatou uma interessante experiência que viveu.

Achava-se sentado junto a uma lareira numa fria noite de inverno. Ali, na quietude da noite, escutava o cântico da lenha envoltas pelas chamas.

Aquela madeira, ali queimando, emitia diversos sons.

Era como se os sons estivessem aprisionados na lenha. Estavam adormecidos e em silêncio. Agora, exposta ao fogo, a música se desprendia dela.

Quando ainda era árvore na floresta, os pássaros pousavam em seus galhos e soltavam trinados. O vento assobiava por entre seus ramos, criando uma melodia única.

Certamente alguém esteve ali, embaixo de sua sombra, cantarolando uma doce cantiga de alegria.

Casais enamorados esculpiram as iniciais de seus nomes enquanto trocavam juras de amor.

E todas as notas dessas canções e melodias haviam como que se apegado à árvore e se entranharam em seu tronco, ficando ali adormecidos, até que um dia a árvore foi cortada.

Uma parte dela foi usada como lenha, colocada na lareira e consumida pelo fogo. As chamas despertaram a música que se encontrava adormecida no coração dela.

Muitas dessas divagações sobre as árvores e as canções podem ser comparadas a muitas vidas.

A vida contém muitas notas e tons, alguns são alegres, outros sufocados por lágrimas.

Os anos passam e nada inspira para que sejam entoados cânticos e melodias.

Afinal, vem o sofrimento e em meio às chamas da dor, as melodias que se achavam aprisionadas há muito tempo se soltam e entoam músicas magistrais, emitindo notas de amor, para alegrar e abençoar o mundo.

Foram armazenadas durante o longo verão da vida e guardadas no coração.

Agora, na hora da dor e sofrimento elas se fazem ouvir.

Recolhamos os gravetos esparsos que nos darão fogo durante o inverno.

Adaptado de Fontes no Vale
Lettie Cowman

Foto 1: http://fotos.sapo.pt/LRnEq7FeEO247syUgbTL
Foto 2: Raquel Tinoco

Simples, simples assim...

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luis Fernando Verissimo


Mestre dos Mestres

Havia um grupo que odiava o Mestre. Tinha aversão pelo seu comportamento. Eram os fariseus.

Buscavam um forte motivo para condená-lo sem causar comoção. Percebiam o amor do povo por aquele homem. Sabiam que se não tivessem cuidado causariam uma revolta ao tocar em sua vida. Mas precisavam calá-Lo.

Viviam-lhe preparando armadilhas.

Certo dia trouxeram-lhe uma mulher pega em flagrante adultério.

A lei de Moisés dizia que por esse pecado, uma mulher seria apedrejada até a morte.

A arrastaram até o local onde o Mestre ensinava. Interromperam a aula.

Aqueles que ali estavam nada entenderam. Sob os olhares espantados perguntaram: "Mestre, esta mulher foi apanhada em adultério. A lei diz que deve ser apedrejada. Entretanto, o que dizes tu? "

Silêncio. Nada se ouvia. Todos aguardavam o veredicto do Mestre.

Se Ele se colocasse a favor da mulher estaria indo de encontro à lei e se a condenasse, iria de encontro a todo o seu discurso de amor e de perdão. E agora?

Todos esperavam em silêncio e o mesmo silêncio foi a resposta.

Como em todos os momentos, a lição.

De repente, se abaixa e começa a escrever na areia.

Seus opositores ficaram furiosos. Esperavam tudo, menos isso!!!

Ninguém sabia o que Ele escrevia. Talvez escrevesse algo que demonstrasse a intolerância humana, a facilidade que temos em julgar os outros e a incapacidade que temos de ver além dos erros.

Seus inimigos aguardavam.

E aí, sua voz. Em tom calmo e sereno apenas disse: "aquele que dentre vós estiver sem pecado, que lhe atire a primeira pedra." Como se nada estivesse acontecendo, voltou a escrever na areia.

Ele autorizou que ela fosse apedrejada, mas mudou a base do julgamento. Teriam de pensar antes de reagir. Teriam de se autoavaliar antes de julgar. Teriam que se colocar no lugar da mulher.

Colocar-se no lugar do outro é o mais difícil.

Reconheceram a injustiça. Sairam da platéia e subiram ao palco. Nem uma pedra... Uma pedra sequer...

O silêncio reinava. O Mestre esperava. Nada... foram se retirando um a um. Ninguém ficou, apenas Ele e a mulher.

Estava, então, na hora de ensinar sobre o perdão. Agora Ele olhava para a mulher. Perguntou-lhe: "onde estão teus agressores? Ninguém te condenou? " A resposta balbuciada em meio a soluços: "ninguém Senhor..."

O perdão... "Nem eu te condeno. Vai e não peques mais."

O perdão significou mudança de atitude na vida daquela mulher. Percebeu um mundo de infinitas possibilidades longe daquela vida que levava. Estava viva. Foi resgatada!!!